sexta-feira, 10 de julho de 2009

Como está a sua vida?



Um homem sujo e atônito está sentado em uma calçada. Alguém passa e lhe joga uma moeda. Cambaleante, o homem atravessa a rua e entra em um bar onde o balconista serve uma dose de bebida a um cliente. Ele passa e continua andando até um canto do boteco. Insere a moeda em um telefone público e uma voz feminina atende a ligação: “- CVV, boa noite”.

O Centro de Valorização a Vida presta apoio emocional gratuito aos usuários através de conversas por telefone ou atendimento presencial em suas unidades. Não são psicólogos. São pessoas comuns dispostas a dar atenção àqueles que por acaso precisarem. E suas campanhas sempre me intrigaram. Tentava imaginar quem ligaria para esse serviço, e claro, quem eram as pessoas que atendiam do outro lado da linha. Pessoas que esperavam o contato de um estranho, sentadas sozinhas ao lado de um telefone para fazer a simples pergunta: como vai você? Por inúmeras vezes pensei em ligar para o número 141 e saciar minha curiosidade. Mas acabava desistindo. Seria vergonhoso tomar o tempo de alguém apenas para cumprir uma vontade tão boba.

Com criação do blog encontrei a justificativa que precisava. Agora seria curiosidade jornalística. Julguei ser um bom motivo. Desconfiei que Niterói teria um posto de atendimento. Suspeita confirmada. Procurei por um responsável que pudesse esclarecer as perguntas já quase empoeiradas na minha mente.
Conversei com Neide por quase uma hora. Voz doce e riso fácil. Voz emocionada e engajada. Tive um relato muito franco e realista sobre a rotina do serviço prestado a população pelo CVV. Depois de ler um anúncio para seleção de voluntários em um exemplar velho de jornal ela decidiu participar. Já são três anos de voluntariado. Oito horas semanais dedicadas aos plantões de atendimento no Posto Samaritano de Niterói.

O CVV conta com quase 50 postos de atendimento em todo o país. São aproximadamente 3000 voluntários e, infelizmente, ainda é pouco. O ramal 141 funciona 24 horas por dia, contudo não são todos os postos que podem colaborar com a jornada. Os grupos que não atendem em período integral são chamados de Postos Samaritanos. Oferecem o mesmo tipo de serviço, porém com o horário reduzido. Em Niterói, 13 pessoas trabalham a partir de 11 horas da manhã e seguem até as 23 horas atendendo aos telefonemas de anônimos que procuram algum tipo de consolo e atenção. Até as 18 horas também funciona o atendimento presencial. Não é necessário marcar a visita antecipadamente. É só chegar e esperar que o plantonista esteja livre.

O voluntário está ali simplesmente para ouvir. Sem julgamento ou discussões morais. Todo conteúdo das conversas é absolutamente sigiloso. O CVV não mantém qualquer espécie de registro das chamadas ou encontros. Os atendentes são conhecidos apenas por seu primeiro nome - medida que preserva o voluntário. Ninguém sabe com que situações pode se deparar. Porém, conversando com a coordenadora do Posto Samaritano de Niterói, entendi um novo sentido para tal postura. “Trabalhar aqui melhora nossa vida. As vezes achamos que nossos problemas são pedras enormes e pesadas. Depois de ouvirmos tantas outras histórias descobrimos como são pequenos se comparados aos dos outros”.

O foco de toda ação do CVV é o outro. Aquele que é atendido. Abrir mão de sua identidade é também um ato de humildade e abnegação. Muitas pessoas ligam para falar sobre coisas triviais. Comentar a novela, as últimas notícias ou comemorar o emprego novo. Algumas para desabafar, chorar e outras para não falar nada. E todas compartilham o mesmo problema: solidão. Esse é o início de um turbilhão emocional que por vezes leva a atitudes desesperadas, como o suicídio.

Para participar desse projeto basta ser maior de 18 anos, alfabetizado e dispor de quatro horas semanais para o trabalho no posto. Existe um período determinado para inscrições, pois um curso é ministrado aos interessados antes de enfrentar os telefones. Após várias aulas e dois plantões supervisionados é que o voluntário começa a integrar de fato a equipe de apoio. Não existe manual de conduta, mas é importante para que o futuro colaborador conheça os princípios e esclareça qualquer dúvida a respeito da rotina de atendimento. Na última seletiva, o posto de Niterói conseguiu mais quatro festejados membros para o grupo. “Por falta de recursos, a divulgação do processo de seleção acaba sendo pelo boca a boca”, diz Neide. Em agosto, haverá um novo treinamento e quem quiser se inscrever deve ligar para 2613-4141.

Então, decidi redigir esse texto na primeira pessoa. Queria contar para você que está lendo como foi que conheci um projeto tão útil e singelo. Porém, as formas engessadas de uma reportagem tradicional não combinariam com o tema. Prefiro que seja semelhante a uma conversa. Muito obrigada pela atenção!


Posto Samaritano de Niterói
Rua Coronel Gomes Machado, 140 - Centro
Telefone: (21) 2613-4141
E-mail: postosamaritanoniteroi@gmail.com


Cláudia Resende

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Para “ver o sorriso de alegria de cada criança”

Sempre no segundo domingo de cada mês, um grupo de voluntários se encontra em frente ao portão do ginásio do Colégio Salesianos, em Santa Rosa, com um só objetivo: daquele ponto de encontro ir levar esperança, alegria, atenção, solidariedade, amizade e amor a crianças carentes da cidade.

Chamado de “Sempre Criança”, esse projeto existe desde 2001 e é fruto de um outro projeto de voluntariado voltado à criança, o "Sonhar Acordado". Ele é formado por 19 coordenadores voluntários, que contam com a participação e doação de outros voluntários de várias idades e profissões. Todos têm em comum a vontade de colaborar na melhora da qualidade de vida dessas crianças e na formação delas como seres humanos com valores e princípios.

O “Sempre Criança” não é uma ONG, nem possui vínculos políticos, religiosos ou financeiros com qualquer instituição. Como afirma Max Leandro, voluntário do projeto desde 2007 e um dos seus coordenadores, é um projeto realizado unicamente por pessoas que acreditam no voluntariado e o praticam pelo bem de todos. O das crianças, o dos voluntários participantes e o deles próprios.

“É uma luta arrumar tudo, organizar tudo e conseguir que dê tudo certo! Nós temos esta função, sabemos que não é uma atividade fácil! Mas é um sacrifício que vale a pena porque depois a recompensa vem com os sorrisos! E um sorriso recompensa tudo! Eu me sinto sempre com as energias renovadas! É sempre muito bom! Todos adoram”, ele diz.

Ainda segundo Max, o grupo realiza atividades periódicas e esporádicas. As periódicas são as mensais, chamadas de “Sempre Ação”, e a grande “Festa de Natal”, o maior evento do projeto, que é promovida para centenas de crianças. Neste ano, para essa festa, cerca de 500 já estão cadastradas e, por isso, a participação de voluntários e as contribuições são sempre muito aguardadas.

Já as esporádicas, entre outras, são as campanhas em prol de doações e a atividade externa recreativa ou cultural, anual – que neste ano seria uma tarde no planetário, mas, contou o coordenador, ainda não foi realizada por falta de apoio e verba para custos como o de transporte.

Atualmente, as atividades “Sempre Ação” têm sido realizadas, principalmente, no orfanato Lar da Criança (localizado no bairro de Ititioca), mas outras instituições muito carentes também são atendidas pelo projeto. São feitas atividades didáticas; recreativas, culturais e artísticas, como leituras, pinturas, teatrinho e trabalhos com argila, para que as crianças desenvolvam, por exemplo, a criatividade. Também são feitas atividades desportivas e, muitas vezes, de higiene, nas quais aprendem noções de higiene bucal.

O coordenador também explica que há várias formas de participação e de contribuição com o projeto. Quem tiver mais de 16 anos, primeiro precisa se cadastrar no site. A partir daí, é só comparecer às atividades vestindo a camisa do projeto ou fazer doações. Além de contar com o apoio de voluntários, o grupo também aceita o apoio de empresas com contribuições financeiras ou de donativos para as atividades.

No próximo domingo, 12/julho, haverá o 6º “Sempre Ação” de 2009 no Lar da Criança. O tema é higiene bucal. Quem puder comparecer para “ver o sorriso de alegria de cada criança”, como comemora Max, será muito bem recebido e não sairá arrependido!

O site do “Sempre Criança” é bem informativo. Lá há mais detalhes sobre o projeto, imagens da criançada, a agenda das próximas atividades e todas as informações sobre como participar, além de depoimentos emocionados dos voluntários! Acesse e participe! Vale a pena conferir: http://www.semprecrianca.org/ .


Sylvia Dietrich
Foto: arquivo_05/07_SempreCriança

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Universidade e inclusão social

Para contribuir com a mudança da realidade enfrentada por deficientes na sociedade, o “Café no Escuro - ver e não enxergar”, projeto desenvolvido junto ao Instituto de Física da UFF, trabalha principalmente com a inclusão de cegos. Professores e estudantes promovem eventos em que o público é convidado a experimentar texturas, cheiros, temperaturas e sons. Separados em grupos, os participantes, de olhos vendados, atravessam um "labirinto" auxiliados por bengalas e um guia, que é cego. “A conscientização é construída por meio da experiência e da troca. As pessoas mudam após tentarem sentir o que um deficiente vive”, conta a professora Susana Planas, uma das coordenadoras do projeto.

Mas por que o café? O cheirinho característico também orienta o participante para a saída do "labirinto", que inclui obstáculos e experiências sensitivas. E nada melhor que essa bebida para abrir uma conversa agradável, após os depoimentos dos visitantes. Como as pessoas reagem? É fácil? Incômodo? “Algumas se sentem amedrontadas com a possibilidade daquilo acontecer com elas. Perdem a noção de espaço, de direção, sentem dificuldade. Essa é uma maneira de despertar atenção para a deficiência alheia”, responde Lucília Machado, que já participou de um dos encontros do Café no Escuro.

A jornalista, que é cadeirante, acredita que debater políticas de acessibilidade é sempre importante para gerar conscientização. “Sofri um acidente em 1999, quando perdi a capacidade de andar. Antes, quando eu chegava de carro para trabalhar, acontecia de só encontrar a vaga para deficientes sobrando. O guarda falava que deficientes não saem de casa e eu, muitas vezes, deixei meu carro lá. Era ignorante, não conseguia me colocar no lugar do outro”, admitiu Lucília.

Moradora de Icaraí, Lucília diz que a cidade ainda precisa avançar em relação à inclusão de deficientes “Sempre gastei muito dinheiro com taxi. Só agora alguns ônibus foram adaptados. As pessoas estão comemorando, mas isso já é um direito antigo. A prefeitura tem que fiscalizar as empresas. Existem também muitas ruas sem rampa, com calçadas esburacadas”, reclamou.

O Café no Escuro trabalha ainda no desenvolvimento de tecnologias assistivas. “São equipamentos e sistemas que ajudam as pessoas em suas limitações, tanto físicas como sensoriais. Para os cegos estamos desenvolvendo, entre várias coisas, uma bengala eletrônica que vibra quando há objetos ou desníveis no caminho”, explicou Susana Planas. A professora de física ressalta que é papel da universidade fomentar debates e ações coletivas na cidade em relação ao tema "Queremos aproximar pessoas de fora da UFF também. Dentro da universidade já estamos avançando. Apesar da biblioteca do Gragoatá ter rampa, blocos de concreto dificultavam o acesso, um problema para cegos ou cadeirantes. Recentemente eles foram retirados”, contou.

Quer participar desse trabalho? Entre em contato com o projeto Café no Escuro. Ou procure o Núcleo de Acessibilidade e Inclusão – Sensibiliza UFF, que conta com a contribuição de instituições e profissionais voltados para inclusão social de pessoas com deficiência e necessidades educacionais especiais. Em junho último, o núcleo conquistou sua sede no campus do Gragoatá, próximo à Praça Leoni Ramos (Cantareira).


Gilka Resende
Foto: arquivo_Café no Escuro

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Surdos, mas não invisíveis

Dona Mirian Rangel, 71 anos, afirma: “A dificuldade de mudar a situação dos surdos começa pelos pais. Muitos não aceitam ou não acreditam que seu surdinho possa ter uma vida absolutamente normal”. Mãe de uma deficiente auditiva, há 40 anos fundou a Associação de Pais e Amigos dos Deficientes da Audição de Niterói (Apada), sediada no bairro São Domingos. “Luciane ficou surda após uma meningite, adquirida aos dois anos. Minha filha foi a grande motivação para esse trabalho. Fui de porta em porta para juntar pessoas em torno da causa. Foi muito complicado, já que muitas não se interessavam, achavam que isso não tinha nada a ver com elas”, lembra Mirian.

Na época, não existia nenhuma instituição voltada para surdos na cidade. Então, Dona Mirian procurou o hoje chamado Instituto Nacional de Educação para Surdos (Ines) e começou a estudar as especificidades da identidade surda “O surdo precisa de acompanhamento com psicólogos, fonoaudiólogos e assistentes sociais, uma educação especial. Mas ele também se comunica e devemos respeitar esse tipo diferente de ser”, ressaltou.

Para a pessoa surda, aprender a Língua Brasileira de Sinais, a Libras, é a melhor forma de viver integrado à sociedade. Quando associada ao português, a linguagem de sinais abre oportunidade aos surdos, facilitando o acesso aos direitos e o exercício da cidadania. Dona Mirian contou que a filha, Luciane Rangel, superou dificuldades e preconceitos para conquistar e exercer sua profissão. Como professora universitária de pedagogia, leciona para ouvintes em instituições privadas e públicas (Uerj e UFF).

Mas, infelizmente, a história de vida da filha de Dona Mirian ainda pode ser considerada exceção. O acesso e permanência dos surdos à educação são restritos. Mesmo que os dados sejam comemorados como resultados de reivindicações pela Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (Feneis), atualmente existem apenas 1500 estudantes surdos em universidades, 20 mestrandos e doutorandos e cinco professores surdos efetivos nas universidades públicas. Os artigos 205, 206, 208 e 213 da Constituição Federal de 1988 destacam como deve ser a educação especial para portadores de deficiência no país.

Além de atender cerca 200 pessoas por mês via SUS, a Apada possui creche com vaga para 60 crianças de até sete anos de idade, entre surdas e ouvintes, essas geralmente filhas ou parentes de surdos. Para garantir a sustentabilidade da creche, a associação estabeleceu parceria com a Secretaria de Projetos Especiais de Niterói, ligada à Secretaria Municipal de Educação. Para a professora Gisele Chaffin, a política de colocar crianças surdas e ouvintes na mesma sala de aula evita segregações. Ela explicou que, muitas vezes, a criança portadora de deficiência auditiva precisa de um adulto surdo para apoio, melhorando a integração e aprendizado do estudante. “Isso dá visibilidade a outro modelo de vida, a outro modelo lingüístico e quebra preconceitos”, ressalta Chaffin, que integra a equipe da secretaria especial.

Niterói possui 69 escolas municipais. Em duas delas, a secretaria possui salas com recursos e profissionais: Escola Municipal Paulo Freire, no bairro Fonseca, e Escola Municipal Altivo César, no Barreto. Segundo Chaffin, uma equipe especializada, formada por 20 profissionais de diferentes áreas de conhecimento, faz visitas às demais unidades de ensino, e também acompanha pontualmente outros 17 municípios do entorno.

Mesmo que os recursos públicos no Brasil ainda não sejam ideais, diz a professora, ela enxerga mudanças expressivas na cidade de Niterói: “A secretaria existe há 10 anos. Estamos conseguindo desenvolver um bonito trabalho. Sou de Niterói, sempre estudei em escolas públicas. Antes, os surdos ou portadores de outras deficiências nem chegavam à escola. Não me lembro de ter tido um coleguinha surdo convivendo comigo”, opina Gisele Chaffin.

Gilka Resende

sábado, 13 de junho de 2009

Sem esquecer a crítica

O que o incentivo às ações voluntárias tem a ver com a promoção de grandes empresas, com a precarização das relações de trabalho e com a configuração de um novo tipo de sociedade, em que se busca delegar aos cidadãos o cumprimento de tarefas que são responsabilidades do Estado? “Tudo” – é o que acreditam os professores André Martins, da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), e Virgínia Fontes, do programa de pós-graduação em História da Universidade Federal Fluminense (UFF).

De acordo com André, a valorização do voluntariado nasceu nos Estados Unidos dos anos 1960, como tentativa de retomar uma coesão social que parecia perdida durante a guerra do Vietnã. Na época, o então presidente John Kennedy instituiu a máxima: “Não pergunte o que o seu país pode fazer por você. Pergunte o que você pode fazer pelo seu país”. Ao mesmo tempo, empresas que vinham sendo boicotadas por darem suporte à guerra passaram a investir em “responsabilidade social”, buscando uma reconciliação com a sociedade.

No Brasil, segundo o professor, esse movimento começou apenas na década de 1990, a partir da criação da Comunidade Solidária. “Trata-se de uma instância de poder do governo Fernando Henrique Cardoso para incentivar o crescimento de novas organizações da sociedade civil e estimular a formação de um exército de voluntários”, afirma.

Para André, um dos grandes problemas é o elemento fundador desse incentivo: “Ele apaga qualquer perspectiva de organização a partir da consciência de classe. Difunde-se a idéia de que todos são iguais e que não há antagonismos, apenas diferenças que podem ser resolvidas pela colaboração de todos em prol do bem-comum. Isso confirma a redefinição do papel do Estado nas questões sociais”, explica.

Virgínia Fontes concorda: “As lutas individuais são direcionadas a permanecer apenas nos seus campos, sem encontrar outras lutas. O próprio Banco Mundial disse às organizações brasileiras: ‘Contanto que não se discuta filosofia, em todos os problemas concretos nós podemos ajudar’. O que isso significa? ‘Contanto que não se discuta reforma agrária, podemos dar uma bolsa-alimentação. Contanto que não se discuta a questão salarial, podemos mandar um quilo de arroz’”, analisa a professora.

O conceito de responsabilidade social se tornou tão positivo que hoje é comum que grandes empresas mantenham programas de voluntariado, muitas vezes usando o trabalho de seus próprios empregados. E uma questão a ser apontada, de acordo com Virgínia, é justamente a mudança nas relações de trabalho. “Massas crescentes de pessoas estão sendo convocadas a trabalhar sem nenhum direito. Sem férias, sem salário, sem contrato, sem nada”, afirma.

André completa: além de limitar os direitos dos trabalhadores, as empresas ainda conseguem se promover a custos baixíssimos. “Ações de voluntariado dentro de grandes empresas se tornam uma poderosa ferramenta de marketing. Porque quando precisa fazer uma campanha de marketing, a empresa paga profissionais para isso. Mas, quando se utiliza desses mecanismos, o marketing é feito com custo zero”, observa.

A história é longa e a questão é complicada. Quer saber mais? Leia as entrevistas completas de André Martins e Virgínia Fontes.


Raquel Torres

terça-feira, 9 de junho de 2009

Para um cuidado mais amplo

Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP), maio de 2005. A intenção do Grupo de Humanização do hospital era simples: organizar um setor abandonado para realizar um evento comemorativo do dia das mães. O que a coordenadora do Grupo, Anialcy Barbosa, não imaginava era que a atividade pudesse vir a ter tantos desdobramentos. “Quando começamos a enfeitar o espaço para a festa, vários pacientes começaram a aparecer, curiosos, procurando nos ajudar. Eles pintaram as paredes conosco, fizeram painéis e, no dia do evento, deixaram uma série de mensagens na parede indicando o que desejavam que melhorasse no hospital. As maiores demandas? Atenção e um cuidado humanizado”, conta Anialcy.

Nesse dia, surgiu a idéia de montar um projeto de voluntariado no hospital – o HUAP Voluntário. “Nossa proposta era minimizar o sofrimento dos pacientes, oferecendo um cuidado integral, que considerasse não apenas a dimensão física, mas também a psicológica. Hoje, é difícil ter isso apenas com o nosso quadro de funcionários, que é muito reduzido. O HUAP tem 350 leitos e, se tivermos três psicólogos, é muito”, critica a coordenadora.

Para dar conta da atenção aos pacientes, uma série de subprojetos começou a ser desenvolvida e hoje o hospital conta com cerca de 200 voluntários – a maioria estudantes universitários. Entre os 16 subprojetos em curso atualmente estão o ‘Criarte’, com a realização de atividades artesanais nas enfermarias; o ‘Recreando’, que consiste em levar crianças soropositivas a museus e zoológicos; e o ‘Alegria Pura’, com ações de lazer na área de emergência pediátrica. Para conhecer todos os projetos desenvolvidos, clique aqui.

Os recursos financeiros para a manutenção das atividades são provenientes do próprio trabalho voluntário. “Na primeira semana de cada mês, montamos um bazar no ambulatório do hospital e vendemos o material produzido. Assim, conseguimos os recursos necessários para realizar todas as atividades”, explica Anialcy.

Como participar?
Duas vezes por ano – em março e em agosto – é oferecido um treinamento para novos voluntários. Para se inscrever, é preciso comparecer ao terceiro andar do prédio anexo do HUAP (Rua Marquês do Paraná nº 30, Centro, Niterói/RJ), com duas foto 3x4, uma xerox da carteira de identidade e um comprovante de residência. O próximo período de inscrições começa já na primeira semana de julho, de segunda a sexta-feira, de 13h às 18h.

Raquel Torres

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Campanha de Natal

O Movimento de Vida Cristã promove há 18 anos em diversos países a campanha de solidariedade: Natal é Jesus. Aqui no Brasil há mais de dez anos, é entregues cestas de alimentos e brinquedos para milhares de famílias de comunidades carentes do Rio, Petrópolis e São Paulo.

Mariana Ferreira, uma das coordenadoras de Niterói, explica que o trabalho está dividido em duas etapas: arrecadação, arrumação e distribuição das cestas solidárias e brinquedos . Ela ressalta que a campanha busca recordar o verdadeiro sentido do Natal e que para isso é feita uma preparação espiritual através de Liturgias de Advento e de Natal.

Os voluntários ajudam de diversas formas: preparando e/ou entregando das cestas e brinquedos para as famílias e crianças, doando alimentos para a Cesta de Natal, brinquedos (novos ou usados em bom estado) para as crianças, dinheiro para comprar alimentos ou brinquedos e participando das coletas nas ruas.

Pérola, estudante de 15 anos, participou em 2007 doando alguns alimentos e em 2008 fazendo doações e também organizando e ajudando na entrega dos alimentos e brinquedos. Ela conta que foi grande a diferença entre os dois anos em que ela esteve na campanha. “Quando você só doa os alimentos, você sabe que está fazendo algo de bom, mas é muito diferente subir a favela, brincar com as crianças, ajudar as senhoras a carregar os alimentos. Quando se participa ativamente, tem-se a sensação clara de que, um pouco por sua causa, aquelas pessoas vão ter um natal mais digno. É muito especial”.

Isabella, 21 anos, participa da campanha Natal é Jesus desde 2003. “São seis anos de oportunidade de praticar o amor às pessoas de maneira mais concreta”, diz ela. Isabella diz que o que faz com que ela continue por tantos anos na Campanha não é a empolgação de fazer uma atividade nova e diferente, como era no começo, é a necessidade dos outros, a urgência em ajudá-los.

No ano passado a campanha Natal é Jesus ajudou a centenas de famílias de alunos da creche Santa Zita e Don Orione e também as que vivem nas comunidades do Preventório e da Grota dentre outras instituições do Rio de Janeiro, Petrópolis e São Paulo.

Para saber mais, vale a pena acessar a página da Campanha solidária:
Bruna Freitas

terça-feira, 2 de junho de 2009

Assistencialismo x Voluntariado

A diferença é o compromisso com o outro

Como já foi lembrado aqui, "voluntariado é diferente de assistencialismo!”. Mas qual é mesmo a diferença? Há alguns que certamente responderiam “Não adianta dar o peixe, tem que ensinar a pescar”. Porém, a professora e coordenadora da Pastoral do Salesianos, Vera Loureiro (foto), citando Betinho, diz que não acredita no assistencialismo pelo assistencialismo mas é necessário e importante em uma urgência, como há tantas com pessoas necessitadas.


Ela também entende que o assistencialismo é a “educação infantil da ação social (voluntariado)”. "Você aproxima as pessoas que são egocêntricas, egoístas, que não fazem e não se sensibilizam com nada e vai pela via do assistencialismo, o que faz com que ela se abra ao mundo novo do voluntariado. Ela, antes, que só comprava o arroz, passa a entregar o arroz e a olhar para o outro”.

Vera Loureiro alega que a maior dificuldade no trabalho voluntário é a falta de compromisso, e exemplifica a partir do caso dos seus alunos. Conta que eles muitas vezes expressam o desejo de visitar instituições, entretanto não querem um compromisso maior. “Eu não sou voluntário por voluntarismo, me deu vontade eu vou lá e faço, acredito que a minha inteligência, meu afeto vão ajudar aquela instituição e se eu tenho um compromisso com ela eu tenho que cumprir”, argumenta a coordenadora.

Luciana Allao, professora do colégio São Vicente de Paulo, também dá muita importância à prática de voluntariado na educação de seus alunos. Ela diz que esse tipo de atividade desenvolve a responsabilidade dos jovens, já que eles se comprometem com a criança e/ou idoso ajudado. "Também os ajuda a conhecer e respeitar outras realidades e a desmistificar o preconceito", afirma a professora.

Nos diversos movimentos da escola como a JUVI (Juventude Vicentina) e o JMV (Juventude Marial Vicentina), os jovens escolhem uma instituição para visitar todo mês e ao final do ano fazem uma celebração e doações. Luciana defende que o jovem tem um grande potencial para o trabalho voluntário, devido à sua vontade de mudar o mundo. "Quando ele se identifica, ele se compromete."

As duas professoras,enfim, alegam que o trabalho voluntário tem tudo a ver com os jovens. Eles, no meio de tanto ativismo, são atraídos pela ação. Porém, o que diferencia o trabalho voluntário de todas as outras atividades, da ação pela ação, é pensar no assistido como uma pessoa concreta, que precisa de um envolvimento e uma relação humana e real. É a partir dessa relação entre o assistente e o auxiliado que o trabalho se torna realmente o de voluntariado, que é quando o voluntário se doa ao outro sem a possibilidade dos assistidos "retribuírem" a atenção recebida, como acontece muitas vezes na política ou em empresas que optam pelo assistencialismo visando a redução do imposto de renda.

Bruna Freitas

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Entrega

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Participei sim. Era junto com um grupo espírita chamado GELA [Grupo Espírita Leôncio de Albuquerque]. Eu não sou espírita, mas todo sábado ia para participar da entrega de sopa. Participei por seis meses do ano passado [2008]. Tive que parar de frequentar por causa do curso de alemão aos sábados.

Um amigo da faculdade comentou que ele participava desse grupo desde os 10 anos de idade e que os voluntários sempre estavam precisando de ajuda. Como eu procuradava algum trabalho voluntário há tempos, essa pareceu a oportunidade ideal.

Nós levávamos sopa, pão e uma garrafa de água. Íamos de carro, parávamos nos lugares com maior concentração de moradores de rua e distribuíamos os alimentos. Ou, quando víamos alguém na rua, parávamos o carro para dar.

Chegávamos lá no GELA às 10h para preparar tudo: lavar garrafas, comprar e cortar pão. Costumávamos sair para as ruas às 12h.

Foi ótimo, eu adorava. Acordava cedo com prazer para ir lá. Era realmente gratificante: na verdade, acredito que eu me sentia melhor do que as pessoas que recebiam o alimento. Acabamos fazendo amizade com as pessoas, que ficavam esperando ansiosas pela nossa chegada.

Pode ser uma justificativa um pouco egoísta, mas era muito gratificante mesmo saber que, pelo menos naquele dia, aquelas pessoas teriam o que comer. Mas, ao mesmo tempo, ficava pensando o que iria acontecer no resto da semana, como seria a vida deles...

Acabávamos nos envolvendo com as histórias de cada um. Certa vez, encontramos um senhor que tocava gaita e escrevia músicas. Ficamos mais de uma hora conversando e cantando com ele. Foi um dos dias mais legais...

Só que uma hora acaba, você vai para a sua casa e percebe que eles continuam lá. Lidar com isso não é fácil, mas era bom saber que pelo menos estávamos tentando ajudar um pouco.

Participe, você vai adorar. É uma experiência incrível.

Lorena Piñeiro, estudante de jornalismo da Universidade Federal Fluminense.
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Paulo Júnior

quinta-feira, 21 de maio de 2009

O melhor remédio

Juntar a vontade de cuidar com as artes cênicas. Assim Fernanda Magalhães descreve o objetivo e a inspiração que resultou na criação da Clínica da Alegria, junto com sua mãe e irmão em 2001. Após estudar teatro, Fernanda começou a cursar enfermagem graças ao projeto, que hoje atende a diversos hospitais, postos de saúde e pousadas geriátricas da região de Niterói. O projeto é baseado na experiência do médico americano Hunter Adams, que se tornou famoso após o filme ''Patch Adams'', estrelado por Robin Williams.

No início, a Clínica da Alegria contava apenas com amigos e familiares de Fernanda. Hoje já são 15 voluntários que atuam nos hospitais de Niterói. Ela conta que no início alguns profissionais da saúde olhavam ''meio torto'' para os narizes vermelhos e as roupas coloridas, mas com o tempo a maioria se convenceu de que o método de trabalho é útil e muito importante.

Através do riso e da alegria, os pacientes esquecem momentaneamente suas dificuldades físicas e a solidão, e se tornam plenamente felizes, ao menos durante a visita dos voluntários. Eles conseguem dar atenção especial e um tratamento mais humano às crianças, jovens e adultos. Muitas vezes, os hospitais não conseguem atender a demanda total devido ao grande
número de pacientes. É nessa brecha que os voluntários da Clínica entram e ajudam a deixar o ambiente hospitalar mais leve e descontraído.


Fernanda lembra que nesse trabalho a doença é o que menos importa, e que é necessário muita sensibilidade no trato com alguns tipos de enfermos. ''Saber respeitar o espaço de cada um é importante'', ela diz. Para fazer parte do projeto é necessário passar por um treinamento de 2 meses, para aprender como lidar com certas situações, o jogo de cintura e o improviso, entre outras habilidades.


As Dificuldades


Apesar de toda a felicidade e compensação emocional que o trabalho proporciona aos voluntários, Fernanda revela que a falta de apoio financeiro é a maior dificuldade para manter o projeto em funcionamento. A Clínica da Alegria se tornou uma ONG há apenas dois anos e ainda encontra alguns obstáculos para financiar suas atividades.
O blog da instituição põe alguns produtos (mousepads, camisas, canecas) à venda. Além desta fonte de renda, a Clínica da Alegria também sobrevive graças ao esforço de Fernanda e de sua mãe, além da ajuda de amigos e de doações. Ela lamenta a falta de mais investimentos, mas afirma que sua energia se renova a cada visita, a cada agradecimento que recebe de um paciente.

Renan Castro

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Educar para a solidariedade

Criadora de projeto que motiva estudantes a praticar ações solidárias, professora diz que voluntariado não é assistencialismo

O que é ser voluntário? Para a professora e Mestre em História Social pela Universidade Federal Fluminense, Beatriz Momesso (foto), a resposta pode ser desdobrada em dois itens fundamentais: doar-se pelo outro e ter atitude de consciência social. Beatriz é a idealizadora do Projeto Gente Solidária do Instituto GayLussac, inaugurado em 2008 e que busca promover o voluntariado entre os estudantes dos Ensinos Fundamental e Médio.

Dentre as ações do projeto, encontram-se uma tarde de recreação com idosos da Casa de Convívio dos Anawin, em Santa Rosa, e uma festa caipira para pacientes do Instituto Estadual de Hepatologia Arthur de Siqueira Cavalcanti - Hemorio, organizadas pelos próprios alunos.

"Voluntariado é diferente de assistencialismo", frisa a professora. É importante que ressalte a prestação de serviços, não apenas a prática de doações".

Marcelle Velasco, estudante do 9º ano e integrante do Gente Solidária, explica o porquê de ser voluntária. "A gente dá algo, mas também recebe carinho. É uma troca muito gostosa".

Paulo Júnior

sábado, 16 de maio de 2009

Desafios de um voluntário

Dia 5 de dezembro é o Dia Internacional do Voluntário. Os anos vão passando, e será que temos reais motivos para comemorar?

O trabalho voluntário ainda precisa de muito incentivo para chegar ao ponto ideal e trazer reais benefícios à comunidade. Segundo uma pesquisa das Nações Unidas de 2003, são 42 milhões de voluntários em todo o Brasil (23% da população). Quando tratamos de jovens voluntários, esse número cai para apenas 7% da população. De acordo com o site Filantropia.org, nos Estados Unidos 62% dos jovens praticam o voluntariado.

Um dos motivos do baixo número de voluntários jovens é a falta de informação sobre como começar. Segundo a mesma pesquisa, 54% dos jovens brasileiros têm vontade de ser voluntário, mas não sabem como proceder. Por isso, nosso blog tenta, entre outras ações, divulgar e orientar ao máximo essas pessoas para que encontrem um estímulo para iniciar qualquer tipo de trabalho solidário.

Ser voluntário é mais do que ser apenas "gente boa" ou ter vontade de ajudar; requer também muita dedicação, disposição e alegria. Trabalhar para ajudar o próximo sem vislumbrar lucros é um gesto de grandeza , mas que deveria ser mais comum no nosso cotidiano.

Para tentar mudar a realidade do mundo e amenizar todas as notícias tristes que vemos diariamente, precisamos começar pelo mais próximo de nós. Nossa rua, nosso bairro, nossa cidade. O Niterói Voluntário busca essa mudança a partir da nossa cidade e conta com a sua ajuda para melhorarmos sempre!

Renan Castro

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Começando o Niterói Voluntário

Seja bem-vindo! O blog pretende ser um canal de divulgação e de promoção do voluntariado na cidade de Niterói. Aqui você encontrará informações sobre o que é voluntariado, projetos e ações, como e por que ser um voluntário e mais.

Você sabia que existe uma lei que descreve o trabalho voluntário?
A lei 9.608/98 foi sancionada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso e no artigo 1º define o que é serviço voluntário:

"Considera-se serviço voluntário [..] a atividade não remunerada, prestada por pessoa física a entidade pública de qualquer natureza, ou a instituição privada de fins não lucrativos, que tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência social, inclusive mutualidade".

Leia a íntegra da Lei 9.608/98

A partir de hoje você pode enviar comentários e sugestões. A sua participação é essencial.

Equipe Niterói Voluntário
 
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