sexta-feira, 10 de julho de 2009

Como está a sua vida?



Um homem sujo e atônito está sentado em uma calçada. Alguém passa e lhe joga uma moeda. Cambaleante, o homem atravessa a rua e entra em um bar onde o balconista serve uma dose de bebida a um cliente. Ele passa e continua andando até um canto do boteco. Insere a moeda em um telefone público e uma voz feminina atende a ligação: “- CVV, boa noite”.

O Centro de Valorização a Vida presta apoio emocional gratuito aos usuários através de conversas por telefone ou atendimento presencial em suas unidades. Não são psicólogos. São pessoas comuns dispostas a dar atenção àqueles que por acaso precisarem. E suas campanhas sempre me intrigaram. Tentava imaginar quem ligaria para esse serviço, e claro, quem eram as pessoas que atendiam do outro lado da linha. Pessoas que esperavam o contato de um estranho, sentadas sozinhas ao lado de um telefone para fazer a simples pergunta: como vai você? Por inúmeras vezes pensei em ligar para o número 141 e saciar minha curiosidade. Mas acabava desistindo. Seria vergonhoso tomar o tempo de alguém apenas para cumprir uma vontade tão boba.

Com criação do blog encontrei a justificativa que precisava. Agora seria curiosidade jornalística. Julguei ser um bom motivo. Desconfiei que Niterói teria um posto de atendimento. Suspeita confirmada. Procurei por um responsável que pudesse esclarecer as perguntas já quase empoeiradas na minha mente.
Conversei com Neide por quase uma hora. Voz doce e riso fácil. Voz emocionada e engajada. Tive um relato muito franco e realista sobre a rotina do serviço prestado a população pelo CVV. Depois de ler um anúncio para seleção de voluntários em um exemplar velho de jornal ela decidiu participar. Já são três anos de voluntariado. Oito horas semanais dedicadas aos plantões de atendimento no Posto Samaritano de Niterói.

O CVV conta com quase 50 postos de atendimento em todo o país. São aproximadamente 3000 voluntários e, infelizmente, ainda é pouco. O ramal 141 funciona 24 horas por dia, contudo não são todos os postos que podem colaborar com a jornada. Os grupos que não atendem em período integral são chamados de Postos Samaritanos. Oferecem o mesmo tipo de serviço, porém com o horário reduzido. Em Niterói, 13 pessoas trabalham a partir de 11 horas da manhã e seguem até as 23 horas atendendo aos telefonemas de anônimos que procuram algum tipo de consolo e atenção. Até as 18 horas também funciona o atendimento presencial. Não é necessário marcar a visita antecipadamente. É só chegar e esperar que o plantonista esteja livre.

O voluntário está ali simplesmente para ouvir. Sem julgamento ou discussões morais. Todo conteúdo das conversas é absolutamente sigiloso. O CVV não mantém qualquer espécie de registro das chamadas ou encontros. Os atendentes são conhecidos apenas por seu primeiro nome - medida que preserva o voluntário. Ninguém sabe com que situações pode se deparar. Porém, conversando com a coordenadora do Posto Samaritano de Niterói, entendi um novo sentido para tal postura. “Trabalhar aqui melhora nossa vida. As vezes achamos que nossos problemas são pedras enormes e pesadas. Depois de ouvirmos tantas outras histórias descobrimos como são pequenos se comparados aos dos outros”.

O foco de toda ação do CVV é o outro. Aquele que é atendido. Abrir mão de sua identidade é também um ato de humildade e abnegação. Muitas pessoas ligam para falar sobre coisas triviais. Comentar a novela, as últimas notícias ou comemorar o emprego novo. Algumas para desabafar, chorar e outras para não falar nada. E todas compartilham o mesmo problema: solidão. Esse é o início de um turbilhão emocional que por vezes leva a atitudes desesperadas, como o suicídio.

Para participar desse projeto basta ser maior de 18 anos, alfabetizado e dispor de quatro horas semanais para o trabalho no posto. Existe um período determinado para inscrições, pois um curso é ministrado aos interessados antes de enfrentar os telefones. Após várias aulas e dois plantões supervisionados é que o voluntário começa a integrar de fato a equipe de apoio. Não existe manual de conduta, mas é importante para que o futuro colaborador conheça os princípios e esclareça qualquer dúvida a respeito da rotina de atendimento. Na última seletiva, o posto de Niterói conseguiu mais quatro festejados membros para o grupo. “Por falta de recursos, a divulgação do processo de seleção acaba sendo pelo boca a boca”, diz Neide. Em agosto, haverá um novo treinamento e quem quiser se inscrever deve ligar para 2613-4141.

Então, decidi redigir esse texto na primeira pessoa. Queria contar para você que está lendo como foi que conheci um projeto tão útil e singelo. Porém, as formas engessadas de uma reportagem tradicional não combinariam com o tema. Prefiro que seja semelhante a uma conversa. Muito obrigada pela atenção!


Posto Samaritano de Niterói
Rua Coronel Gomes Machado, 140 - Centro
Telefone: (21) 2613-4141
E-mail: postosamaritanoniteroi@gmail.com


Cláudia Resende

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Para “ver o sorriso de alegria de cada criança”

Sempre no segundo domingo de cada mês, um grupo de voluntários se encontra em frente ao portão do ginásio do Colégio Salesianos, em Santa Rosa, com um só objetivo: daquele ponto de encontro ir levar esperança, alegria, atenção, solidariedade, amizade e amor a crianças carentes da cidade.

Chamado de “Sempre Criança”, esse projeto existe desde 2001 e é fruto de um outro projeto de voluntariado voltado à criança, o "Sonhar Acordado". Ele é formado por 19 coordenadores voluntários, que contam com a participação e doação de outros voluntários de várias idades e profissões. Todos têm em comum a vontade de colaborar na melhora da qualidade de vida dessas crianças e na formação delas como seres humanos com valores e princípios.

O “Sempre Criança” não é uma ONG, nem possui vínculos políticos, religiosos ou financeiros com qualquer instituição. Como afirma Max Leandro, voluntário do projeto desde 2007 e um dos seus coordenadores, é um projeto realizado unicamente por pessoas que acreditam no voluntariado e o praticam pelo bem de todos. O das crianças, o dos voluntários participantes e o deles próprios.

“É uma luta arrumar tudo, organizar tudo e conseguir que dê tudo certo! Nós temos esta função, sabemos que não é uma atividade fácil! Mas é um sacrifício que vale a pena porque depois a recompensa vem com os sorrisos! E um sorriso recompensa tudo! Eu me sinto sempre com as energias renovadas! É sempre muito bom! Todos adoram”, ele diz.

Ainda segundo Max, o grupo realiza atividades periódicas e esporádicas. As periódicas são as mensais, chamadas de “Sempre Ação”, e a grande “Festa de Natal”, o maior evento do projeto, que é promovida para centenas de crianças. Neste ano, para essa festa, cerca de 500 já estão cadastradas e, por isso, a participação de voluntários e as contribuições são sempre muito aguardadas.

Já as esporádicas, entre outras, são as campanhas em prol de doações e a atividade externa recreativa ou cultural, anual – que neste ano seria uma tarde no planetário, mas, contou o coordenador, ainda não foi realizada por falta de apoio e verba para custos como o de transporte.

Atualmente, as atividades “Sempre Ação” têm sido realizadas, principalmente, no orfanato Lar da Criança (localizado no bairro de Ititioca), mas outras instituições muito carentes também são atendidas pelo projeto. São feitas atividades didáticas; recreativas, culturais e artísticas, como leituras, pinturas, teatrinho e trabalhos com argila, para que as crianças desenvolvam, por exemplo, a criatividade. Também são feitas atividades desportivas e, muitas vezes, de higiene, nas quais aprendem noções de higiene bucal.

O coordenador também explica que há várias formas de participação e de contribuição com o projeto. Quem tiver mais de 16 anos, primeiro precisa se cadastrar no site. A partir daí, é só comparecer às atividades vestindo a camisa do projeto ou fazer doações. Além de contar com o apoio de voluntários, o grupo também aceita o apoio de empresas com contribuições financeiras ou de donativos para as atividades.

No próximo domingo, 12/julho, haverá o 6º “Sempre Ação” de 2009 no Lar da Criança. O tema é higiene bucal. Quem puder comparecer para “ver o sorriso de alegria de cada criança”, como comemora Max, será muito bem recebido e não sairá arrependido!

O site do “Sempre Criança” é bem informativo. Lá há mais detalhes sobre o projeto, imagens da criançada, a agenda das próximas atividades e todas as informações sobre como participar, além de depoimentos emocionados dos voluntários! Acesse e participe! Vale a pena conferir: http://www.semprecrianca.org/ .


Sylvia Dietrich
Foto: arquivo_05/07_SempreCriança

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Universidade e inclusão social

Para contribuir com a mudança da realidade enfrentada por deficientes na sociedade, o “Café no Escuro - ver e não enxergar”, projeto desenvolvido junto ao Instituto de Física da UFF, trabalha principalmente com a inclusão de cegos. Professores e estudantes promovem eventos em que o público é convidado a experimentar texturas, cheiros, temperaturas e sons. Separados em grupos, os participantes, de olhos vendados, atravessam um "labirinto" auxiliados por bengalas e um guia, que é cego. “A conscientização é construída por meio da experiência e da troca. As pessoas mudam após tentarem sentir o que um deficiente vive”, conta a professora Susana Planas, uma das coordenadoras do projeto.

Mas por que o café? O cheirinho característico também orienta o participante para a saída do "labirinto", que inclui obstáculos e experiências sensitivas. E nada melhor que essa bebida para abrir uma conversa agradável, após os depoimentos dos visitantes. Como as pessoas reagem? É fácil? Incômodo? “Algumas se sentem amedrontadas com a possibilidade daquilo acontecer com elas. Perdem a noção de espaço, de direção, sentem dificuldade. Essa é uma maneira de despertar atenção para a deficiência alheia”, responde Lucília Machado, que já participou de um dos encontros do Café no Escuro.

A jornalista, que é cadeirante, acredita que debater políticas de acessibilidade é sempre importante para gerar conscientização. “Sofri um acidente em 1999, quando perdi a capacidade de andar. Antes, quando eu chegava de carro para trabalhar, acontecia de só encontrar a vaga para deficientes sobrando. O guarda falava que deficientes não saem de casa e eu, muitas vezes, deixei meu carro lá. Era ignorante, não conseguia me colocar no lugar do outro”, admitiu Lucília.

Moradora de Icaraí, Lucília diz que a cidade ainda precisa avançar em relação à inclusão de deficientes “Sempre gastei muito dinheiro com taxi. Só agora alguns ônibus foram adaptados. As pessoas estão comemorando, mas isso já é um direito antigo. A prefeitura tem que fiscalizar as empresas. Existem também muitas ruas sem rampa, com calçadas esburacadas”, reclamou.

O Café no Escuro trabalha ainda no desenvolvimento de tecnologias assistivas. “São equipamentos e sistemas que ajudam as pessoas em suas limitações, tanto físicas como sensoriais. Para os cegos estamos desenvolvendo, entre várias coisas, uma bengala eletrônica que vibra quando há objetos ou desníveis no caminho”, explicou Susana Planas. A professora de física ressalta que é papel da universidade fomentar debates e ações coletivas na cidade em relação ao tema "Queremos aproximar pessoas de fora da UFF também. Dentro da universidade já estamos avançando. Apesar da biblioteca do Gragoatá ter rampa, blocos de concreto dificultavam o acesso, um problema para cegos ou cadeirantes. Recentemente eles foram retirados”, contou.

Quer participar desse trabalho? Entre em contato com o projeto Café no Escuro. Ou procure o Núcleo de Acessibilidade e Inclusão – Sensibiliza UFF, que conta com a contribuição de instituições e profissionais voltados para inclusão social de pessoas com deficiência e necessidades educacionais especiais. Em junho último, o núcleo conquistou sua sede no campus do Gragoatá, próximo à Praça Leoni Ramos (Cantareira).


Gilka Resende
Foto: arquivo_Café no Escuro
 
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