sábado, 13 de junho de 2009

Sem esquecer a crítica

O que o incentivo às ações voluntárias tem a ver com a promoção de grandes empresas, com a precarização das relações de trabalho e com a configuração de um novo tipo de sociedade, em que se busca delegar aos cidadãos o cumprimento de tarefas que são responsabilidades do Estado? “Tudo” – é o que acreditam os professores André Martins, da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), e Virgínia Fontes, do programa de pós-graduação em História da Universidade Federal Fluminense (UFF).

De acordo com André, a valorização do voluntariado nasceu nos Estados Unidos dos anos 1960, como tentativa de retomar uma coesão social que parecia perdida durante a guerra do Vietnã. Na época, o então presidente John Kennedy instituiu a máxima: “Não pergunte o que o seu país pode fazer por você. Pergunte o que você pode fazer pelo seu país”. Ao mesmo tempo, empresas que vinham sendo boicotadas por darem suporte à guerra passaram a investir em “responsabilidade social”, buscando uma reconciliação com a sociedade.

No Brasil, segundo o professor, esse movimento começou apenas na década de 1990, a partir da criação da Comunidade Solidária. “Trata-se de uma instância de poder do governo Fernando Henrique Cardoso para incentivar o crescimento de novas organizações da sociedade civil e estimular a formação de um exército de voluntários”, afirma.

Para André, um dos grandes problemas é o elemento fundador desse incentivo: “Ele apaga qualquer perspectiva de organização a partir da consciência de classe. Difunde-se a idéia de que todos são iguais e que não há antagonismos, apenas diferenças que podem ser resolvidas pela colaboração de todos em prol do bem-comum. Isso confirma a redefinição do papel do Estado nas questões sociais”, explica.

Virgínia Fontes concorda: “As lutas individuais são direcionadas a permanecer apenas nos seus campos, sem encontrar outras lutas. O próprio Banco Mundial disse às organizações brasileiras: ‘Contanto que não se discuta filosofia, em todos os problemas concretos nós podemos ajudar’. O que isso significa? ‘Contanto que não se discuta reforma agrária, podemos dar uma bolsa-alimentação. Contanto que não se discuta a questão salarial, podemos mandar um quilo de arroz’”, analisa a professora.

O conceito de responsabilidade social se tornou tão positivo que hoje é comum que grandes empresas mantenham programas de voluntariado, muitas vezes usando o trabalho de seus próprios empregados. E uma questão a ser apontada, de acordo com Virgínia, é justamente a mudança nas relações de trabalho. “Massas crescentes de pessoas estão sendo convocadas a trabalhar sem nenhum direito. Sem férias, sem salário, sem contrato, sem nada”, afirma.

André completa: além de limitar os direitos dos trabalhadores, as empresas ainda conseguem se promover a custos baixíssimos. “Ações de voluntariado dentro de grandes empresas se tornam uma poderosa ferramenta de marketing. Porque quando precisa fazer uma campanha de marketing, a empresa paga profissionais para isso. Mas, quando se utiliza desses mecanismos, o marketing é feito com custo zero”, observa.

A história é longa e a questão é complicada. Quer saber mais? Leia as entrevistas completas de André Martins e Virgínia Fontes.


Raquel Torres

3 comentários:

  1. Matéria muito importante para a discussão sobre Voluntariado. Gostei bastante, principalmente pela iniciativa no "saber Mais".

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  2. Seu blog é lindo!
    Também estou iniciando um, mas a minha ideia é ajudar as instituições carentes que cuidam de crianças em Niterói.
    No blog eu deixo todos os tipos de contatos para que as pessoas possam doar ou fazer uma ação solidária.
    Se puder adicionar o meu blog... Vamos fazer uma parceria voluntária e solidária!

    http://pontesolidaria.blogspot.com/

    Parabéns pela iniciativa de ajudar a nossa cidade!

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  3. Olá, sou Nira Kríssia e gostariad e ser voluntária junto a vocês... minha irmã já é voluntária (Nayra Ftia José de Lima) e me falou sobre vocês... deixo aqui o meu contato, caso haja interesse estarei a disposição...

    Grande beijo e fiquem na paz, Nira Kríssia
    (21) 8506-9530

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