quinta-feira, 2 de julho de 2009

Universidade e inclusão social

Para contribuir com a mudança da realidade enfrentada por deficientes na sociedade, o “Café no Escuro - ver e não enxergar”, projeto desenvolvido junto ao Instituto de Física da UFF, trabalha principalmente com a inclusão de cegos. Professores e estudantes promovem eventos em que o público é convidado a experimentar texturas, cheiros, temperaturas e sons. Separados em grupos, os participantes, de olhos vendados, atravessam um "labirinto" auxiliados por bengalas e um guia, que é cego. “A conscientização é construída por meio da experiência e da troca. As pessoas mudam após tentarem sentir o que um deficiente vive”, conta a professora Susana Planas, uma das coordenadoras do projeto.

Mas por que o café? O cheirinho característico também orienta o participante para a saída do "labirinto", que inclui obstáculos e experiências sensitivas. E nada melhor que essa bebida para abrir uma conversa agradável, após os depoimentos dos visitantes. Como as pessoas reagem? É fácil? Incômodo? “Algumas se sentem amedrontadas com a possibilidade daquilo acontecer com elas. Perdem a noção de espaço, de direção, sentem dificuldade. Essa é uma maneira de despertar atenção para a deficiência alheia”, responde Lucília Machado, que já participou de um dos encontros do Café no Escuro.

A jornalista, que é cadeirante, acredita que debater políticas de acessibilidade é sempre importante para gerar conscientização. “Sofri um acidente em 1999, quando perdi a capacidade de andar. Antes, quando eu chegava de carro para trabalhar, acontecia de só encontrar a vaga para deficientes sobrando. O guarda falava que deficientes não saem de casa e eu, muitas vezes, deixei meu carro lá. Era ignorante, não conseguia me colocar no lugar do outro”, admitiu Lucília.

Moradora de Icaraí, Lucília diz que a cidade ainda precisa avançar em relação à inclusão de deficientes “Sempre gastei muito dinheiro com taxi. Só agora alguns ônibus foram adaptados. As pessoas estão comemorando, mas isso já é um direito antigo. A prefeitura tem que fiscalizar as empresas. Existem também muitas ruas sem rampa, com calçadas esburacadas”, reclamou.

O Café no Escuro trabalha ainda no desenvolvimento de tecnologias assistivas. “São equipamentos e sistemas que ajudam as pessoas em suas limitações, tanto físicas como sensoriais. Para os cegos estamos desenvolvendo, entre várias coisas, uma bengala eletrônica que vibra quando há objetos ou desníveis no caminho”, explicou Susana Planas. A professora de física ressalta que é papel da universidade fomentar debates e ações coletivas na cidade em relação ao tema "Queremos aproximar pessoas de fora da UFF também. Dentro da universidade já estamos avançando. Apesar da biblioteca do Gragoatá ter rampa, blocos de concreto dificultavam o acesso, um problema para cegos ou cadeirantes. Recentemente eles foram retirados”, contou.

Quer participar desse trabalho? Entre em contato com o projeto Café no Escuro. Ou procure o Núcleo de Acessibilidade e Inclusão – Sensibiliza UFF, que conta com a contribuição de instituições e profissionais voltados para inclusão social de pessoas com deficiência e necessidades educacionais especiais. Em junho último, o núcleo conquistou sua sede no campus do Gragoatá, próximo à Praça Leoni Ramos (Cantareira).


Gilka Resende
Foto: arquivo_Café no Escuro

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